quarta-feira, 23 de março de 2016

VANTAGEM DE SER MÍOPE

   
Foto de celular míope como eu! rsrsrs

   Uma brecha no meio da tarde me permitiu ver o mar. Banho de mar, caminhada, banho de mar, caminhada, banho de mar. Eu pensei que domingo seria o último dia que iria a praia antes do frio chegar, fui e a água já expectava o que vem, mais fria... mas não é que hoje o dia esteve ensolarado, o mar, uma piscina natural e quentinha, sem onda, nem vento, e eu pensei estar em outro país: Argentina, Uruguai... Pra onde eu caminhava todos a falar espanhol. Eu me senti órfã, a única brasileira nas praias florianopolitanas. Nuestros vecinos lotam na temporada e até agora ainda chegam.

   Olhei para as belas pequenas montanhas ao fundo, a extensão daquele marzão, o céu azul, poucas nuvens e olhando, olhando pra valer, como se não pudesse perder a oportunidade, como se fosse o último dia de vida. E claro, minha visão embaçada, lusco fusco. Sabe como é a vida de um míope né, pois é, sem óculos no mar fica difícil enxergar claramente as pessoas e a paisagem a distância, toda a minha leitura é opaca.

   Me fez lembrar o Documentário Janelas da alma, de 2001, brasileiro, onde os cineastas gravaram pessoas com deficiências visuais incluindo míopes. Estão no rol, José Saramago, Hermeto Pascoal, Oliver Sacks etc. Como é a visão de mundo para tais pessoas através dos próprios relatos. É muito interessante a experiência fenomênica. E além do que, a depender da extensão da deficiência, o sujeito vê acrescentado à paisagem, brilhos, ondas, espectros, nebulosidades, alternância de cores que vão se esmaecendo ou intensificando. Muito legal mesmo os relatos. Vale a pena assistir, disponível na rede. Inclusive alguns dos entrevistados nem estão mais entre nós e é bom revê-los.

   Pois eu estava na opacidade dentro da água e não estava mergulhando. Enxergando o mundo à minha maneira. Lembrei-me desde os vinte e poucos anos vir com essa inusitada experiência de a certa distância deformar as pessoas. Quando alguém conhecido acenava com movimentos de braço e um tchau de longe pra mim, eu correspondia ao aceno, mas não saberia dizer quem era se estivesse sem óculos. Recorria a alguma colega próxima perguntando se conhecia e ela meio assustada dizia é fulano, sicrano, e eu ah! Estratégia que administrava, pois detestava óculos e ainda podia me dar ao luxo de usá-lo somente durante as aulas.

   Diferente agora que estou na beira dos sessenta, pois que a partir dos quarenta a pessoa começa a perder um por cento da visão a cada ano. Cada vez vou sentindo as diferenciações, o míope demora a ter problemas de vista cansada, mas nem tal benefício continuo a usufruir, passando a usar óculos bifocais e a ter como companhia as tradicionais moscas volantes, imagens em formato de círculos, pontos, riscos, nuvens, teias etc.

   Vejo o mundo distorcido e olha que não é por causa da confusão política!   

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