terça-feira, 1 de março de 2016

FOGO DA VIDA

 
    No fim de semana assisti o filme Vidas que se cruzam, de 2008, e somente ao final descobri que a atriz que eu estava achando muito bonita, estilosa no porte era nada mais nada menos que Kim Basinger, de quem sou fã desde jovem. Antigamente se faziam posteres enormes dos astros e eu tinha um dela, poderosa.

  A maturidade realçou ainda mais a sua beleza e nesta película, a personagem da atriz traz um ar de insatisfação existencial, uma carência que não consegue ser suprida pela família, marido e filhos.

   Começa a ter um caso com um homem, não está claro como se deu o encontro, mas o lastro da paixão vem forte e ambos sedentos por momentos de calor e proximidade de corpos. Isso só até onde ela o permite, já que não dá conta de tirar a camisa. Apenas abaixo da cintura é permitido ser visualizado pelo parceiro.

   Fiquei sem entender porque se dava tal atração entre os dois, já que tinham família constituída e estável, era o que parecia, até que em algum momento chega a hora dela encarar a realidade e mostrar sua cicatriz - que se encontra na secção de um dos seios - consegue desabotoar a camisa; se surpreende pois, o parceiro do desejo ainda continuava a tê-lo, demonstrando com um beijo seguro na área do corte. Ela deseja operar para ter o seio de volta, mas o parceiro, autêntico, diz que bobagem, o importante é que derrotou a morte. Ufa, que linda lição!

   Mas não é bem assim que acontecia quando a relação era tentada pelo marido, que não dava conta de encarar as mudanças que a operação do câncer de mama provocou. A esposa deixou de ser desejada, e a morte da relação escancarada.

   Pior, a filha mais velha começa a desconfiar de seus constantes desaparecimentos e desculpas de atraso. Seguindo a mãe descobre onde fica o ninho de amor. É difícil aceitar que a mãe tem outra vida. E age, por ciúme, ou impulsividade, querendo assustar os dois apaixonados, acabando por provocar um incêndio no local em que os dois se amavam.

   Esses lances no filme não vem seguidos, coerentes, não! Vão e voltam em partes, ora mostrando o passado, ora o presente. A reviravolta na vida da filha mais velha, que quando da morte da mãe conhece um dos filhos do amante, o qual quer entender o porquê do pai ter um relacionamento fora do casamento. Ela nunca relata a ninguém o acontecido. Se apaixonam, mas a fatalidade está marcada nela e a insegurança e vida errônea são os caminhos que trilha. Ela abandonou a filha após dois dias de nascida. E hoje, com o trágico acidente do rapaz, pai de sua filha já com 11 anos, este pede socorro ao amigo para descobrir o paradeiro da moça que o deixou .

   Era de se esperar que o encontro entre mãe e filha fosse marcado pela emoção e alegria. O medo dá o realce aquela mulher, e o desespero de não saber como reagir a nova realidade, assumir o papel de mãe que a amedronta, encarar a culpa (entra no quarto para visitar o ex-marido e consegue falar sobre o que aconteceu no dia trágico. Ele está em coma, mas ao falar disso consegue expulsar os demônios que carrega ... dedução minha, óbvio), o retorno do passado bate forte no presente e exige que a fuga tenha fim. A filha é doce e estruturada, tem paciência com aquela mulher amargurada pelo destino. Finalmente o pai deixa o estado de risco e ambas, mãe e filha vão ao seu encontro.

   Durante a fita, eu ficava pensando em como não adianta fugir. Pra onde for, o peso da cruz a ser carregado. E o peso só é extraído, diminuído, quando expulso para fora. Ferida que há muito tempo vinha sendo cultivada internamente, sem cicatrização... marcando os caminhos com angústia extrema e bloqueando escolhas.

   E aquela mulher, marcada para sempre com o corte do seio, que não consegue o amparo e afeto necessários no momento crucial de vida? Como o desejo, o amor, se esvaem frente as dificuldades com relação a saúde? Por que os homens têm tanta dificuldade em assumir as responsabilidades de Homem? Será não amadurecem nunca?

   É apenas uma imitação da vida, um filme, mas como exemplifica tantas realidades que se ouve falar. Porque será que para eles (os homens, claro, generalizando) a fuga funciona como escape para o descomprometimento com o outro? E não fica o remorso. Por quê?    

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