segunda-feira, 18 de julho de 2016

ROL DE POSSIBILIDADES

   Fim de domingo. Friozinho gostoso apropriado para o mês de julho (vindo de quem a observação hein). Aproveitei o sossego e li o dia inteiro. Que delícia ter esse tempo só pra isso. Pude entrar no livro e esquecer o que passava a volta. E não sabem da maior... livro diferente dos que eu havia dito que ando lendo. O espírito da prosa uma autobiografia literária, do escritor Cristovão Tezza, Record, 2012. Comecei ontem e já chego ao fim. Eu fiquei curiosa com o carrear da história do escritor e não consegui parar de ler. Delícia, quer dizer, bem sofrido e angustiante o caminhar até descobrir-se um escritor de Literatura. Delícia é fazer parte da história e até encontrar pontos consonantes. Delícia é a leitura.

   Pontos de vista sobre a literatura feitos pelo escritor desde a origem. Desde quando compreendeu que queria escrever. E vai durante todo o livro tentando desvendar o por que escrever.Com o olhar crítico explicita o que pensava a cada época. Ainda faltam umas poucas páginas, mas achei interessante o modo de pensar dele sobre o escrever... normalmente pela inadequação do sujeito à visão de mundo e que provavelmente se fosse um sujeito feliz não tinha razão para escrever.

   Outro lance que gostei é sobre como muitos acontecimentos do passado ressurgem em outras histórias, mas não repetindo o passado, mas como novos eventos, servindo de ancoragem à narrativa. Querendo dizer mais ou menos o que disse o Humberto Eco com a ideia seminal. Cada escritor tendo uma visão sobre a escrita a partir de sua experiência como referencial.

   O ponto de vista sobre o realismo também é muito produtivo e ganha aspectos interessantes vistos sobre o modo de pensar dele como escritor. Abarcando a importância do tema e questionando uma visão que limita a realidade, diz "O espírito do realismo... é uma visão de mundo, um pacote inteiro de representação da realidade que pressupõe o poder máximo da prosa, um homem incompleto e desenraizado,... uma viva cultura urbana....".

   E o mais difícil de tudo e que vem entremeado em todo o livro, de como é difícil escrever literatura, pois segundo ele, ela não é ingênua e muito menos espontânea. O necessário trabalho de burilamento no tempo, do conhecimento literário, da linguagem, juntos com o desejo de escrever e querer fazer o melhor possível. "E não se escreve impunemente: a escrita nos transforma."

   Sei que adorei a autobiografia dele, acompanhando a descrição da vivência e retirando bons ensinamentos sobre "o que nos leva a escrever."

Nenhum comentário:

Postar um comentário