sexta-feira, 8 de julho de 2016

A VIDA CORRE LIGEIRO

   
Desenho Ju Martins
Trem antigo. Diferente do trem bala.



   A vida precisa é de coragem. Pego emprestado a fala do Guimarães Rosa. Uma amiga disse que fui corajosa em mudar de cidade, não é fácil disse ela. Existem muitos desbravadores pela vida, não sou a primeira. Mas que não é fácil é verdade. Transformações radicais são necessárias. Desconhecer o todo e a parte e reconstruir um mundo que de hora para outra ficou irreconhecível. Aprender nomes de ruas, conhecer bairros, serviços e gentes. Essa última parte um pouco mais difícil porque criar laços leva muito tempo e a formação da amizade custa a amadurecer (epa! a palavra aqui de novo). E quando se é mais velha também existe o fator "preguiça" (ou acomodação, quem sabe), a opção é por ter boas relações e quanto aos amigos, persistem os antigos e novas construções... indo devagar com o andor.

   Associei a fala da minha amiga e juntei os cacos com um filme que assisti ontem, Kate e Leopold, de 2001, com Meg Ryan e Hugh Jackman. É um filme leve, gostoso de se ver. Eu estava um "bagaço" depois de ter ajudado a filha em um trabalho de escola e precisava de relaxamento. Não precisa de pensar muito, apenas usufruir as cenas. O filme foi crescendo aos meus olhos porque o personagem principal, um duque do século XIX, além de muito romântico, tem uma ética de abalar o nosso século. Transportado para o século XXI por um cientista vidrado no tempo. Os dois têm parentesco de descendência. O tal personagem começa a vivenciar a Nova York abismado com as transformações, veículos, inovações tecnológicas, confusões etc.

   Coincidentemente o duque conhece a mulher dos seus sonhos, moderna executiva que ambiciona crescer profissionalmente e anseia por um amor romântico. Se envolvem e se apaixonam até o momento em que eles têm uma briga e cada um vai para um lado. Chega o momento dele retornar ao seu tempo. O cientista leva-o ao local de transporte. Quando volta a casa descobre ser a executiva a sua tataravó pelas fotos de família. Convence ela a se transportar, pois o tempo está se extinguindo e o portal desaparecerá. Ela decide ir atrás do amado, encontram-se e ficam juntos naquele século. Até aí leve e gostoso filme.

   Numa das falas do cientista é que fui pega. Ele tinha sido atropelado e por ficar falando da aventura do tempo acham que é louco e o prendem no hospital considerando ser ele uma ameaça. Até que ele conquista uma das enfermeiras ao falar sua verdade numa reflexão, diz como o tempo é complexo, onde se tem a impressão de que tudo passa como um sopro. Compara com se fosse um trem em alta velocidade, a vida passando rápida e quando se vê já está na estação. Ela o ajuda a escapulir do hospital e ele leva o duque até o local do transporte.

   Logo em seguida coloquei na TV Cultura e começava Contos da meia noite. E o Paulo César Pereio ali declamando o conto A Rede, de Ana Maria Martins, onde o personagem volta a lembranças do passado durante um voo. Uma delícia de conto.

   Após decido ir dormir, não sem antes procurar um livro da escritora que eu julgava possuir, não o encontro. Enxergo outro e pego para releitura rápida, Um Amor Literário de Letícia Malard, em que a personagem adora  caminhar pelo tema literário durante a trama. Uma cinquentona que ficou viúva e começa, depois de anos de dependência ao marido, a descobrir o que é o viver independente e começa a ser dona de si mesma.

   De apenas um link passei a ter quatro. Temas diferentes mas que remetem ao tempo fisiológico, cronológico, psicológico e ficcional. 

   Para quem queria descanso o cérebro não parou de correr ligeiro.   

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