quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

EM NOME DO PAI


EM NOME DO PAI
16/10/2017

   Era um bonito menino. Fez questão tivesse o mesmo nome do pai. Apaixonada por quem lhe dera o fruto do amor maior do mundo. O nome do pai era horrível. O amor é cego, surdo, mudo e a sorridente mulher embala a doce criança nos braços e o esposo nunca de chegar.

  O dia encerrou-se. Sozinha na cidade grande dependia das providências que o marido ficara responsável. Iriam para o quartinho simples de pensão na redondeza. Santa Efigênia era lotada desse tipo de hospedagem. Aguardava. Ansiedade lhe diminuía leite. O bebê, graúdo, exigia em forte choro. Fraca pelo trabalho de parto, se esforçava oferecer ao seu bebê a segurança, amor, carinho incondicional, leite...

   O hospital público sem mordomia. As precariedades velhas conhecidas dos que vinham do interior das Minas Gerais. A cidadezinha não oferecia condições para mães terem o parto seguro. Faltava de um tudo até para atendimentos triviais. Não quis arriscar e viajar mais 400 km até cidade mais próxima, pois lá estava na mesma condição. A van da prefeitura sacolejando os passageiros em tratamento de saúde na Capital. Quase 800 km depois, chegavam a Belo Horizonte. O trabalho de parto iniciara antes de adentrar a cidade com dores se intensificando.

   Mãe e criança se apagaram na noite iluminada,  que num vago olhar a mulher admirara antes de se entregar. Filho chegando, saindo-lhe das entranhas e emanando ar santíssimo, cabelos encaracolados, ao redor da cabeça aura iluminando-lhe bochechas rosadas. O pai, santo companheiro, atento às solicitações, segurava trapos de algodão aconchegando criança. Ao lado, improvisado berço forrado de palha. Estavam na cocheira onde o patrão protegia animais da fazenda. Aos sons, como sinos, animais bendiziam o dia e movimentavam patas ajoelhando e dando graça à bem-aventurança. Cabras, burricos, galinhas, marrecos, patinhos, companheiros da lida se aproximando, movimentavam mãos em sinal da cruz. Sentiam o bendito presente. Maria. Era Maria e sentia-se segura. Fechou os olhos frente a exaustão. 

   Estrelas iluminando a noite.

   A enfermeira a acorda. A criança tem fome. Oferta-lhe alimento e mãozinhas acariciam. Em seguida, a enfermeira diz que não poderá mais ocupar o leito, outra mulher aguarda na grande fila do dia. Enrola a criança na única manta que levara e desce para aguardar o marido. 

   Obtém alta do hospital. Não tem dinheiro. A van só retornará dois dias depois. O celular ficou com o marido que nunca mais apareceu.

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