EM
NOME DO PAI
16/10/2017
Era um bonito menino. Fez questão tivesse o mesmo nome do pai. Apaixonada por quem lhe dera o fruto do amor maior do mundo. O nome do pai era
horrível. O amor é cego, surdo, mudo e a sorridente mulher embala a doce criança nos braços e o esposo nunca de chegar.
O
dia encerrou-se. Sozinha na cidade grande dependia das providências que o
marido ficara responsável. Iriam para o quartinho simples de pensão
na redondeza. Santa Efigênia era lotada desse tipo de hospedagem.
Aguardava. Ansiedade lhe diminuía leite. O bebê, graúdo, exigia
em forte choro. Fraca pelo trabalho de parto, se esforçava oferecer ao seu bebê a segurança, amor,
carinho incondicional, leite...
O
hospital público sem mordomia. As precariedades velhas
conhecidas dos que vinham do interior das Minas Gerais. A cidadezinha
não oferecia condições para mães terem o parto seguro.
Faltava de um tudo até para atendimentos triviais. Não quis arriscar e viajar mais 400 km até cidade mais próxima, pois lá estava na mesma condição. A van da prefeitura sacolejando os passageiros em tratamento de saúde na Capital. Quase 800 km depois, chegavam a Belo Horizonte. O trabalho de parto iniciara antes de
adentrar a cidade com dores se intensificando.
Mãe
e criança se apagaram na noite iluminada, que num vago olhar a mulher
admirara antes de se entregar. Filho chegando, saindo-lhe
das entranhas e emanando ar santíssimo, cabelos encaracolados, ao
redor da cabeça aura iluminando-lhe bochechas rosadas. O pai, santo
companheiro, atento às solicitações, segurava trapos de algodão
aconchegando criança. Ao lado, improvisado berço forrado de
palha. Estavam na cocheira onde o patrão protegia animais da
fazenda. Aos sons, como sinos, animais bendiziam o dia e movimentavam patas ajoelhando e dando graça à bem-aventurança. Cabras, burricos, galinhas, marrecos, patinhos,
companheiros da lida se aproximando, movimentavam
mãos em sinal da cruz. Sentiam o bendito presente. Maria. Era Maria
e sentia-se segura. Fechou os olhos frente a exaustão.
Estrelas
iluminando a noite.
A
enfermeira a acorda. A criança tem fome. Oferta-lhe
alimento e mãozinhas acariciam. Em seguida, a enfermeira diz
que não poderá mais ocupar o leito, outra mulher aguarda na grande
fila do dia. Enrola a criança na única manta que levara e desce
para aguardar o marido.
Obtém alta do hospital. Não tem dinheiro. A
van só retornará dois dias depois. O celular ficou com o marido que nunca mais apareceu.
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