TRADUÇÃO
02/10/2017
Ele
estava a curta distância. Não mais que cinquenta passos. A moça,
mão a cintura, olhava para ele. Ele tentou traduzir o significado do
gesto. Ele não enxergava nítido o rosto. Mas sabia quem era. Porte inegável. O cabelo lhe descia em leve cacheado negro brilhante. Jeito de espanhola, ombros nus, vestido em
simples rodado e estampado em flores vermelho vivo, calçado para sapateado.
Piscou
forçosamente. Olhos iam da languidez à nitidez. O fluir de sentimentos em línguas de
fogo. Face queimando, suor a descer a testa. Mãos ao alto, em performance, esperando outras se juntarem as dela.
O
comando inundou a moça de música e ela iniciou o gingado. Primeiramente o ritmado dos pés. Aos poucos, incorporando-se, a melodia do flamenco. Dominada pelo espírito que luta,
tem esperança, pede passagem, as castanholas em delírio. Vibração cigana ao comando da alma.
Ele a alcança e toca-lhe firme a cintura e ao compasso, rodopiam harmonicamente.
No giro final, ela cai em seus braços emitindo um suspiro. Ao
canto da boca o líquido avermelhado.
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