sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

TRADUÇÃO


TRADUÇÃO
02/10/2017

     Ele estava a curta distância. Não mais que cinquenta passos. A moça, mão a cintura, olhava para ele. Ele tentou traduzir o significado do gesto. Ele não enxergava nítido o rosto. Mas sabia quem era. Porte inegável. O cabelo lhe descia em leve cacheado negro brilhante. Jeito de espanhola, ombros nus, vestido em simples rodado e estampado em flores vermelho vivo, calçado para sapateado.

     Piscou forçosamente. Olhos iam da languidez à nitidez. O fluir de sentimentos em línguas de fogo. Face queimando, suor a descer a testa. Mãos ao alto, em performance, esperando outras se juntarem as dela.
     
     O comando inundou a moça de música e ela iniciou o gingado. Primeiramente o ritmado dos pés. Aos poucos, incorporando-se, a melodia do flamenco. Dominada pelo espírito que luta, tem esperança, pede passagem, as castanholas em delírio. Vibração cigana ao comando da alma.

     Ele a alcança e toca-lhe firme a cintura e ao compasso, rodopiam harmonicamente. No giro final, ela cai em seus braços emitindo um suspiro. Ao canto da boca o líquido avermelhado.

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