segunda-feira, 19 de março de 2018

MARCAS DA VIDA

Quadro de Ju Martins
   "O filme é um soco na boca do estômago." Foi essa afirmação que postei sobre o que introjetei do filme Leviatã, do diretor Andrey Zvyagintsev, http://aposentadativa.blogspot.com.br/2016/01/monstro-que-engole-o-cidadao.html .

   E, agora, de novo, esta frase soa e ecoa o que continuei sentindo após ter assistido outro filme do diretor russo, Sem Amor, de 2017.

   Tantas sensações dolorosas, tantos sentimentos contraditórios.

   Aquele menino de doze anos não mais me largou. Sinto a dor dele ruminando dentro da alma, sem sossego. 

   Meus pensamentos, que depois de velha, parecem insistir permanentemente, entremeando sentimentos e emoções dolorosas, insistem dificultar o estar no mundo. Noites mal dormidas, excesso de questões sem resposta, a conduta de mãe, de pai, como atitudes podem marcar para sempre a criança, significado do desaparecimento, busca, esperança de encontro, continuar persistindo no caminho de vida, a linguagem no convívio familiar, marcas chanceladas nos envolvidos, egoísmo ...

   Fiquei horrorizada com a postura da mãe. Fiquei. Mas como julgar. Quantos não optam viver a própria vida sem prestar atenção aos laços. Apenas seguindo mecanicamente e deixando a vida se entrelaçar aos jogos psicológicos que somos mestres em construir. Assim, brigas de casais tomam características de confronto em que muitos são lesados no processo. O filho costuma sofrer, indefeso. Marcas que perfilam vidas e vidas...

   O imaginário infantil é tão potente que pode aniquilar. No filme, e em muitas realidades, continua sem resposta. Indico para todos, mães, pais, filhos, todos guardamos inscritos passado e linguagem (ainda que nem sempre seja a verdade, mas verdade imaginária é a que conta).

   A muito tempo não me sinto assim por uma peça da sétima arte. Socos e mais socos.   

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