22/10/2019
Sentada ao computador, ela passa horas na mesma posição, às vezes, esquece até
mesmo de movimentar as pernas. O olhar se volta para fora vez em quando. O
ipê-rosa ao sabor do vento. Uma única flor em pendão. Os ventos de outubro
soçobram e as folhas se sentem embaladas. Resolve levantar e chegar à sacada,
um princípio de tarde, quando vê o homem caminhando com dificuldade devido à
idade. Escora o braço no parapeito e decide:
― Olá? ― diz no tom alto.
― Bom dia, como vai? ― o homem responde.
― Sabe que te invejo. Todos os dias te vejo passar,
caminhando.
― Caminhar faz bem. É importante para a saúde.
― Estou precisando.
― Podemos caminhar juntos.
― Qualquer dia vou.
Ambos se apresentam. Ele faz questão de frisar, “com dois
pês”. E continua:
― Aí tem café?
― Tem. Aparece qualquer hora. Vou gostar. O marido
também.
― É catarinense?
― Mineira, de Belo Horizonte. E você?
― Paulista. Estou aqui há mais de quarenta anos. Conheço algumas cidades
mineiras.
―
São Paulo também tem o lado bom.
―
Eu venho do Tribunal de contas da União, trabalhei no caso Lalau, lembra dele?
―
Claro. Mas ainda existem muitos “lalaus” por aí.
― A crise é moral.
― De valores. Ando lendo o livro 'Privataria Tucana' e lá está
cheio de “lalaus”.
―
Falam que a crise é econômica. Mas, é moral.
―
Qualquer dia você me chama que vamos caminhar juntos. Bater um bom papo.
Aparece mesmo para o café.
―
Até logo!
O
homem continua o caminho. Ela volta ao computador.
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