sexta-feira, 25 de outubro de 2019

A CRISE É MORAL

22/10/2019

Sentada ao computador, ela passa horas na mesma posição, às vezes, esquece até mesmo de movimentar as pernas. O olhar se volta para fora vez em quando. O ipê-rosa ao sabor do vento. Uma única flor em pendão. Os ventos de outubro soçobram e as folhas se sentem embaladas. Resolve levantar e chegar à sacada, um princípio de tarde, quando vê o homem caminhando com dificuldade devido à idade. Escora o braço no parapeito e decide:

            ― Olá? ― diz no tom alto.
            ― Bom dia, como vai? ― o homem responde.
            ― Sabe que te invejo. Todos os dias te vejo passar, caminhando.
            ― Caminhar faz bem. É importante para a saúde.
            ― Estou precisando.
            ­― Podemos caminhar juntos.
            ― Qualquer dia vou.
            Ambos se apresentam. Ele faz questão de frisar, “com dois pês”. E continua:
            ― Aí tem café?
            ― Tem. Aparece qualquer hora. Vou gostar. O marido também.
            ― É catarinense?
            ― Mineira, de Belo Horizonte. E você?
            ― Paulista. Estou aqui há mais de quarenta anos. Conheço algumas cidades mineiras.
    ― São Paulo também tem o lado bom.
    ― Eu venho do Tribunal de contas da União, trabalhei no caso Lalau, lembra dele?
    ― Claro. Mas ainda existem muitos “lalaus” por aí.
            ― A crise é moral.
            ― De valores. Ando lendo o livro 'Privataria Tucana' e lá está cheio de “lalaus”.
   ― Falam que a crise é econômica. Mas, é moral.
   ― Qualquer dia você me chama que vamos caminhar juntos. Bater um bom papo. Aparece mesmo para o café.
   ― Até logo!

O homem continua o caminho. Ela volta ao computador.

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