08/10/2019
Leite, leitura
letras, literatura,
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura
Paulo Leminskihttps://www.pensador.com/autor/paulo_leminski/
“Não
tem a ver. Para que servem os amigos”. Eu passava por uma das ruas do bairro Santa
Tereza e ouvi a frase que saiu da boca de um morador de rua. Ele estava sentado
à beira da entrada de um bar. O outro sujeito com quem falava tinha acabado de
se levantar e seguiu seu rumo.
Continuei
intrigada com a frase. Uma frase tão comum, mas impressa naquela fala estava a
questão humana. Quando se pensa que a humanidade está perdida, que as pessoas
vivem voltadas para si mesmas, só pensando e olhando o próprio umbigo, uma
frase deixa a gente surpreendida. Isso, foi isso o que me aconteceu. De onde
menos se esperava, saiu a frase regada à esperança. De uma pessoa que vive a
falta constante de tudo: moradia, alimentação, saúde, familiares, sem elo com a
realidade social. Aquela pessoa fez que a palavra abarcasse a dimensão do que
ali estava inscrito.
Temos consciência de que qualquer pessoa que viva em
sociedade, tanto do bem quanto do mal, tem momentos em que o amigo exerça
influência sobre ela, ou que nesse papel esteja envolvido interesses, jogos, ou
ainda, ganhos secundários de dizer-se amiga.
Naquele
momento não levei nada disso em consideração. Apenas ali estava um ser
fragilizado em um momento da vida e que mesmo assim, disse a frase que soou
como um hino. Entrou em meus ouvidos como melodia. A inspirar. Ainda existe a possibilidade do ser humano ir longe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário