sábado, 12 de outubro de 2019

COTIDIANO


08/10/2019

Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura 


“Não tem a ver. Para que servem os amigos”. Eu passava por uma das ruas do bairro Santa Tereza e ouvi a frase que saiu da boca de um morador de rua. Ele estava sentado à beira da entrada de um bar. O outro sujeito com quem falava tinha acabado de se levantar e seguiu seu rumo.
           
            Continuei intrigada com a frase. Uma frase tão comum, mas impressa naquela fala estava a questão humana. Quando se pensa que a humanidade está perdida, que as pessoas vivem voltadas para si mesmas, só pensando e olhando o próprio umbigo, uma frase deixa a gente surpreendida. Isso, foi isso o que me aconteceu. De onde menos se esperava, saiu a frase regada à esperança. De uma pessoa que vive a falta constante de tudo: moradia, alimentação, saúde, familiares, sem elo com a realidade social. Aquela pessoa fez que a palavra abarcasse a dimensão do que ali estava inscrito.

            Temos consciência de que qualquer pessoa que viva em sociedade, tanto do bem quanto do mal, tem momentos em que o amigo exerça influência sobre ela, ou que nesse papel esteja envolvido interesses, jogos, ou ainda, ganhos secundários de dizer-se amiga.

Naquele momento não levei nada disso em consideração. Apenas ali estava um ser fragilizado em um momento da vida e que mesmo assim, disse a frase que soou como um hino. Entrou em meus ouvidos como melodia. A inspirar. Ainda existe a possibilidade do ser humano ir longe.

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