domingo, 17 de junho de 2012

HAIKAI... POESIA FUNDAMENTAL

   

  Semana passada fiz uma oficina deliciosa sobre HAIKAI, na Casa UNA. A poesia japonesa sobrevive desde o século III. Numa mistura que vai do estado Zen, aos estados d'alma, à harmonia, assomando-se sentidos do anárquico, do humor, da informalidade, buscando "um esvaziar-se".

 

Nos elementos traz:

  •   ausência do eu (as coisas existem sem o nosso olhar e assim devem ser);
  •   a solidão (estarmos em nós mesmos, independente de estar só ou não);
  •   a grata aceitação (aceitar o que nos vem de forma grata);
  •   a concisão ( nada que não seja necessário merece ser dito);
  •   a iluminação (está ligado a ideias de iluminação súbita);
  •   o contraditório (flagrar o que há de contraditório);
  •   a realidade (olhar voltado para a realidade externa);
  •   o humor;
  •   a liberdade;
  •  o amor;
  •   a coragem (não ser lógico);
  •  a materialidade (trata do concreto e não do abstrato);
  •   a simplicidade;
  •   ausência de moralidade.

 

Assim, vai criando poesia em simples 17 sílabas (os famosos tancas), mas impregnados de poesia sobre a natureza e sua relação com o homem.

O Haikai tem a singeleza de um gesto, mas sem sentimentalismo exagerado. Têm apenas três estrofes: a primeira com 5 sílabas, a segunda com 7 sílabas e a terceira com 5 sílabas (é possível a flexibilidade, nada ao extremo). A primeira estrofe traz a situação; a segunda transmite o elemento ativo e a terceira, a percepção (síntese). Normalmente não tem título e nas três estrofes sintetiza toda a magia da realidade humana através do poético.

O professor citou os maiores poetas do Haikai: Bashô, Issa, etc; alguns brasileiros, incluindo Paulo Leminski como um dos mais expressivos.

Estou repassando o olhar de leiga, do que assimilei dos dados do professor durante encontro de nove horas. Dá para vislumbrar a beleza poética desse canto oriental.

O professor nos propôs o exercício de elaborar Haikais. Eis alguns, apenas começo atrevido, mas conselho de professor:  Atreva-se.



muro pintado

pelas sombras da noite

concreto ato

 

inquieta olha

a noite estrelada

embaralhada

 

na rua deserta

a espera de ônibus

olhar desperta

 

chama atenção

de seu enamorado

em cena ação

 

trânsito caótico

liberação d’ olhar

em outra ótica

 

caos urbano

balanço que vai e vem

ao mo(vi)mento

 

beleza à mesa

na mescla de flor de seda

alegra a casa

 

em companhia zen

pode qualquer gema

sentir a clara e ar

 

este corpo te afeta

até quando o espinho

te espeta?

 

pano de chita

artesania em construção

ode poeta canta

 

bailar de vento

faz minha memória

ser catavento



   Gostei da experimentação, mas como eu digo, exercício de inspiração de uma aposentada ativa!

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