segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

APRECIE A LUA ... ENQUANTO ESTÁ VIVO!

  
   Eu sou uma apaixonada pelo Gilberto Gil e estava me preparando para ir dormir, quando ouvi que naquele Programa do Jô, o assunto da madrugada seria com e sobre ele, não resisti. Assisti até o fim. O seu carisma sempre me toca. 

   Iniciou cantando a bela canção Domingo no Parque, lindíssima e ao mesmo tempo tão triste. Um triângulo amoroso de desfecho trágico e que a cada nota nos faz sentir o gosto amargo da inveja, do ciúme, do desejo, da agressividade contida em cada um de nós, da qual, às vezes, não nos damos conta até que aconteça o inusitado.

   Mais à frente foi contando seus "causos" ao Jô, que parece ter participado em muitos deles naquela trágica época da ditadura, onde os artistas eram tidos como subversivos. Onde um ajudava ao outro como podia. 

   Contou como apareceu a letra da canção A Paz, quando o amigo João Donato chegou pedindo-lhe para escrever a letra da música que tinha composto. Tinha um compromisso, mas na insistência do amigo, que logo caiu em sono;  Gil, solidário, não pôde deixar de atendê-lo, escrevendo a letra que hoje lindamente temos a chance de escutar e, no próprio CD, ouvi-lo contar tal história. É tão legal a gente conhecer estas particularidades da vida de um artista. Como flui a inspiração, os segundos e minutos que dão mostra da maestria do seu criador, como é o seu cotidiano nestes momentos. É inexplicável, excitante!

   Como quando escreveu a letra da música Não Tenho medo da Morte, no intervalo de reunião em Sevilha. A noite ficou ali querendo expressar algo... Em suas próprias palavras "deu um frêmito, aquele desaparecimento" e em minutos tinha o texto da música. Pediu o filho para trabalhar em estúdio as batidas, com sons de tambores que trazem a emoção dessa realidade, fúnebre e derradeira verdade; e "ele saiu cantando" (fala dele).


   "Não tenho medo da morte

Gilberto Gil

Não tenho medo da morte
mas sim medo de morrer
qual seria a diferença
você há de perguntar
é que a morte já é depois
que eu deixar de respirar
morrer ainda é aqui
na vida, no sol, no ar
ainda pode haver dor
ou vontade de mijar

a morte já é depois
já não haverá ninguém
como eu aqui agora
pensando sobre o além
já não haverá o além
o além já será então
não terei pé nem cabeça
nem fígado nem pulmão
como poderei ter medo
se não terei coração?


não tenho medo da morte
mas medo de morrer, sim
a morte é depois de mim
mas quem vai morrer sou eu
o derradeiro ato meu
e eu terei de estar presente
assim como um presidente
dando posse ao sucessor
terei que morrer vivendo
sabendo que já me vou

então nesse instante sim
sofrerei quem sabe um choque
um piripaque, ou um baque
um calafrio ou um toque
coisas naturais da vida
como comer, caminhar
morrer de morte matada
morrer de morte morrida
quem sabe eu sinta saudade
como em qualquer despedida."



   Quanta poesia, hein gente!... Quanta dor existencial vivenciamos nesta canção. Ele mesmo disse que muita gente que o encontra sempre diz que era o que queria dizer a respeito... Eis o poeta em sua capacidade de dar a voz.

   Tocou no assunto "morte", exemplificando que um amigo sempre lhe diz: "Gil, medite sempre, todos os dias, sobre a morte." Falou da naturalidade da morte, mas que muitas pessoas têm medo de tocar no assunto.

   Eu demorei para contar todo o acontecido antes, mas o tema morte foi que o especialmente chamou minha atenção. Esta verdade que muitos não querem nem abrir a boca para esboçar é nossa companheira diária, como ele diz pode ser morte morrida ou morte matada.

  Também adorei quando contou da canção que fez sobre a África do Sul, "Salve a Libertação da África do Sul". Coincidentemente eu tinha assistido dias atrás ao documentário sobre o Nelson Mandela e seu papel de liderança do povo africano; pude corporificar todo o sentimento e as dores.

   Gostosa também foi sua explicação sobre a escolha do nome da filha Preta Gil, pois chegou ao cartório e quando disse o nome, o escrivão achou estranho e disse: mas Preta. Gil respondeu claro, como Clara, Branca. Foi feito o registro. É muito legal a sua insistência em  valorizar a raça, lutar pelo respeito e dignidade de todos através da sua musicalidade.

   Aproveitei do Gil nesta postagem, mas como fã incondicional, não pude deixar de registrar. Divulgou que cantará na Praia de Copacabana, em homenagem aos 50 anos de carreira ou aos seus 70 anos (me confundi!), tendo também a presença do Steve Wonder, em 25 de dezembro, aberto à comunidade.

   Que a canção "Não tenho medo da morte" te inspire às reflexões... 

   

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