sábado, 21 de janeiro de 2012

CONVITE À VIDA

    Eu adoro receber convites, ser tratada de forma romântica de vez em quando. E por milagre, meu marido me convidou para ir ao cinema ontem... Foi milagre mesmo! Nem sei quando foi a última vez que saí de casa pra isso. Ele é tão caseiro que eu posso até esquecer e esperar sentada algum convite... Que fazer, ninguém é perfeito, não é mesmo! Normalmente eu é que programo, não me custa nada... Mas é tão bom, às vezes, ser paparicada, né!

   Esse é um dos males de se estar aposentada. Acostuma-se tanto com o cotidiano, com o estar em casa, confortável, que o corpo parece acomodar-se. Tem-se que estar atento e sair do "quadrado", pois a gente vai ficando deformada com a tal rotina (esquece de se arrumar, olhar-se no espelho, dos cuidados básicos,...) e diz "pra que eu vou correr atrás do ônibus se já estou dentro dele". Ouvi esta frase há muito tempo naquele programa antigo do Jô Soares, quando  o marido perguntou pra esposa porque agora ela não se arrumava como nos tempos do namoro e ela soltou tal frase. Eu acho-a muito engraçada e é a desculpa que dou quando ando meio desleixada.

  Mas, vamos lá. Fomos ao Cine Belas Artes, o ambiente é muito gostoso, com livraria, bar com algumas mesas, num estilo bem descontraído e enquanto aguarda-se o horário do filme pode-se saborear gostosas opções por preços acessíveis. Vimos "A pele que habito", filme do Almódovar.

   Realmente o Almódovar é suis generis. O filme é impressionante. Mostra a vivência de um cirurgião plástico e sua história familiar bastante conturbada (esposa, filha e o próprio). Ele culpa um rapaz que estuprou (???) sua filha que sofre de problemas psiquiátricos e ela entra em nova crise. Sequestra o rapaz levando-o para Toledo, na Espanha (uma linda cidadezinha do século XII, a qual fiquei apaixonada quando estive lá... Respira-se história por todos os lados... É linda), mas numa situação meio macabra... Culpa-o pela situação e sem dar chances ao rapaz de se explicar, vai transformando-o em mulher, utilizando-o (a) como cobaia para suas experiências transgênicas e sua obsessão pela esposa morta... E o mais terrível... Apaixona-se por ela (ele??). No final  a cobaia consegue dar o pulo do gato e seduz o médico, finalizando com a morte dele. Agora Vera (antigo Vicente) está livre daquele que a construiu (a gente até lembra do Frankenstein... Credo) e ao mesmo tempo perdida com a nova identidade...

   O que o poder médico (ou qualquer profissão) pode fazer em mãos erradas, heim! A gente sai do cinema achando que o mundo está cheio de gente assim: sem escrúpulos; com abuso de autoridade por deter poder; pessoas acima da lei por sede de vingança e o pior de tudo - sem dar chances da outra pessoa se defender. O que, ainda bem, não é a verdade... A gente sai do cinema até meio paranóica, achando que qualquer transeunte ... A qualquer instante... É uma sensação muito tenebrosa.

   Apesar do filme instigar reflexão a respeito, traz para nós a sensação de fragilidade do homem frente a uma realidade (o ódio, a vingança, a violência, o mal)... Ainda bem que a "índole do bem" impera... Eu prefiro acreditar no homem/mulher, na sua capacidade e vontade na criação de uma civilização com regras saudáveis e que há esperança... Mas o risco de viver só cresce com a violência que se escancara à nossa porta. Dá pra ficar bastante apreensiva. Precisamos de muita, muita, muita educação e distribuição de renda para um mundo com menos violência.

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