quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

"O MUNDO PERFEITO"

   Estamos na Semana do Modernismo, você se lembra??? - Antropofágico - movimento das artes brasileiras que rompeu com o que estava instituído naquela época (anos 20) e deu dimensão à capacidade do brasileiro de criar a sua própria arte (tanto na poesia, pintura, música, cinema...).


   Do cinema me lembrei de Macunaíma, filme em que o Grande Otelo foi a estrela, elaborado a partir do livro de Mário de Andrade. Mostra-nos a malandragem, o jeitinho adquirido desde que fomos descobertos pelos portugueses.


   Eu, em 2008, criei um conto (qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência...) num nível mais satírico que eu chamei de " O MUNDO PERFEITO" e com um "herói macunaímico", eis:


  " ADEUS era um deus rei de um lugar tido por ele como perfeito e de tudo fazia para que funcionasse o mais perfeitamente possível. Afinal, tinha um nome a zelar, rivais de plantão, interessados em sua derrota, e além disso: tinha um ego pra lá de grande. 
   Para conseguir tal trunfo, contava com a ajuda de fieis escudeiros. Alguns fidelíssimos, mas três se superavam, se sobressaiam em relação aos demais - assessorando-o nos pontos mais nevrálgicos e importantes para o êxito daquele controle do reino...Perfeito.
   Anions era o mais puxa-saco. De tudo fazia para que o reino tivesse bastante recursos, porque assim, poderiam aplicar na infraestrutura local, mais que os outros reis de outros reinos. Era o pai de projetos mirabolantes e todos com a exigência de darem certo, pois produtividade e desempenho eram a obsessão. Nada mais natural se isso não fosse às custas dos pobres operários. Para conseguir o que queria, retirava direitos dos trabalhadores que a vida inteira dedicaram à construção da cidade; pois o que interessava era ter como investir, mesmo que à custa do sofrimento da ralé. Tal ralé, para ele, insignificante. Era de uma frieza emocional  acentuada e ao observador mais arguto esta característica poderia ser considerada exacerbada. Além da frieza, tinha um lado feminino à flor da pele, mas o lado mais perverso... Da inveja, do egoísmo, da ambição a todo custo para a conquista do seu projeto. Capaz de fingir com maestria, aos mais incautos  passava a impressão de bom coração.
   Esqueci de mencionar que os tais escudeiros tinham um defeito que impossibilitava de exercer a verdade no que ela tem de ético. O que valia era a verdade necessária ao alcance de um conjunto de procedimentos...Não interessava nada mais.
   Tinho era outro. Outro puxa-saco e com um jeito mais tímido. Meio gordinho, atarracado, vivia apertado em suas vestimentas. Seu negócio era fazer a política. Política de polichinelo. Fazia arranjos, conversava com caciques, conseguia embromar as bases com facilidade - conseguindo até eleger um filho, que nunca tinha sido político, mas que vivia no cambalacho. Fama de guloso, um dos pecados capitais que mais o excitava. Uma de suas características era a lealdade ao programa do partido a todo custo, sem levar em consideração qualquer ideal de vida melhor aos concidadãos. Mesmo com tais predicados, entrava eleição, saia eleição, continuava no poder - a própria base pisoteada sempre apostava no filho da aldeia, base das cidadezinhas locais da qual era conterrâneo. Conseguia emprego para alguns, o que possibilitava, pela ingenuidade daquele povo, o voto de confiança. O mundo continuava perfeito para ele e seus objetivos e se orgulhava  da sua habilidade. Volta e meia corria atrás de conchavos políticos, pois as eleições estavam sempre próximas e todo cuidado era pouco para se manter por cima.
   O terceiro escudeiro fiel era uma mulher - o que não poderia deixar de ser - pois a mulher poderosa ou que pensa que o é, pode ser mais feroz nas situações de poder. Andrógena era seu nome. Tinha o aspecto meio contraditório. Seu lado feminino era meio recalcado e, por vezes, assumia características do macho - a capacidade fálica lhe assentava com excelência. Cuidava com zelo do marketing de todo o reino e nada era publicado sem o seu crivo. Não permitia que a aparência de ADEUS e a perfeição do reino fossem desvirtuados pela mídia. Era uma mentora política que fortalecia o perfil psicológico do rei - fragilizado em alguns aspectos devido imaturidade latente. Cuidava de tudo com unhas e dentes e ai de quem ousasse interferir no desenvolvimento daquele projeto político em andamento.
   Com tais escudeiros no controle das áreas estratégicas do reino, ADEUS podia se esbaldar. Gostava da farra, mulheres bonitas, vivia nas revistas de fofoca, com as beldades de plantão. Sabia utilizar seu lado sedutor com facilidade e aproveitava para usufruir desses prazeres oferecidos aos montes aos poderosos. Contavam muitas histórias sobre os meandros da sua vida pessoal, o que permeava certo mal-estar, mas sempre censurado na mídia. Tinha certo apelo macunaímico, o estilo arraigado à flor da pele, da herança dos primeiros tempos."


   Espero que tenham gostado do meu lado irônico. Em todo Brasil podemos vislumbrar semelhanças com "esse mundo perfeito", não é mesmo???

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