segunda-feira, 29 de julho de 2013

ROTAÇÃO DE VIDA

   

   Li em algum lugar a frase "Tudo em nossa vida terá um final". É uma frase bastante óbvia é verdade, mas ao lê-la bateu um quê inexplicável... ou explicável demais para alguém que está chegando aos sessenta.

   Vai-se levando a vida num ritmo que pouco tempo sobra às reflexões e, às vezes, se leva um choque grande quando a tal obviedade nos leva à constatação que um dia se vai desaparecer. Engraçado, quando se é jovem não se pensa muito no tempo que resta, somente com o envelhecimento batendo à porta, a dimensão toma ares de contagem regressiva.

   Mas nada de pessimismo. Já pensou se gastássemos a vida só preocupados com a morte e deixar de usufruir a vida? Espero que não tenha nenhuma pessoa assim, pois as opções de modos de vida interessantes existem aos montes. Veja só um exemplo que assisti hoje. 

   Gosto muito do Dr. House, uma série que mostra um médico meio fora dos padrões. Na cena de hoje tinha uma senhora de uns oitenta anos que começou a ficar com a libido exacerbada devido ao retorno de bactérias da sífilis que estavam incubadas há mais de 60 anos (destruíram neurônios cerebrais), vejam só!  E a excitabilidade dela fez aflorar o desejo de viver e ser desejante... algo que vai sendo esquecido com a velhice, se assim for o desejo da pessoa. Bom, ela não queria fazer o tratamento por dois meses para se livrar do problema com medo de aquela vivência que lhe aflorou os desejos fosse embora. Disse que não queria ficar apenas jogando cartas pelo resto da vida, aquele acontecimento acordou-a para uma realidade já vivenciada quando jovem e a estimulou às mudanças. Claro, são apenas personagens, mas podem ser exemplos para uma nova rotação de vida.

   O filme que assisti ontem também me pareceu emblemático para tratar as nossas relações familiares, de amizade, de amor e dando uma redimensionada na visão de vida e morte. O filme é francês, de 2010, "Até a Eternidade". A história começa com um sujeito vivendo seus excessos num bar (?) ou boate (?) e em seguida pega a moto e se choca com um enorme caminhão. 

   Ele faz parte de um grupo de amigos que sempre passa as férias juntos e eles decidem viajar assim mesmo, pois nada podiam fazer pelo doente na UTI. Durante esse tempo, as personalidades se mostram em suas diferenças e vai tornando a convivência meio estressante.

   O diretor coloca neste filme, a realidade do cotidiano, do dia a dia e toda a capacidade que tem as pessoas de vivenciarem suas neuroses e seus silêncios, mesmo estando acompanhados. E nada transparecia à verdade. Viviam suas mentiras, sem coragem de se revelarem aos amigos e se mostrarem tal qual eram . Mostra a mediocridade existente na rotina das pessoas, e elas engajadas em continuar na sua manutenção. 

   Consequentemente a angústia de cada um expressa-se na fisionomia. Rostos que transmitem a falta que  trazemos em nós, seres insatisfeitos. Até que um único sujeito que não representa, põe a limpo o que está acontecendo. Expõe a podridão do faz de conta dos relacionamentos chegando a ferir a todos, até que finalmente conta que o amigo deles tinha acabado de morrer e eles o deixaram sozinho para curtir as férias.

   Diferenças individuais, pecados capitais, egoísmo, marcas da vida humana em sua extensão, e cada um ajeitando-se como pode para seguir. Achei que com esse filme eu podia terminar da forma que comecei - "Tudo em nossa vida terá um final".

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