sábado, 10 de março de 2012

LEMBRANÇAS DA ROÇA

   Fui ao Museu de Artes e Ofícios, na Estação Central do Brasil (Ferroviária), na Praça da Estação, enquanto esperava o início da Manifestação do Dia 08 de março - Dia da Mulher. E valeu a pena!


    O trabalho está representado ali pelas ferramentas e equipamentos utilizados pelos trabalhadores brasileiros em séculos anteriores. Achei muito interessante toda a trajetória e em quase todos os objetos pude focalizar um pouco a história de minha família e daqueles trabalhadores que sempre buscávamos em nossas necessidades: o sapateiro (muito valorizado pelo povo), o padeiro e o leiteiro (passavam na nossa porta).


   O que me impressionou mais foi quando estava passando pelos materiais utilizados na fazedura da rapadura. Aqueles grandes tachos, a concha para mexer o caldo de cana que não podia empelotar, a mesa de madeira, com seus quadrados, esperando receber o melado para moldar a rapadura. 


   Fiquei com uma dor no peito (tipo uma melancolia, uma saudade, uma tristeza, sei lá???) e até senti uma lágrima querer derramar ao assistir o vídeo de um trabalhador mexendo o caldo de cana, que já estava no ponto. Eu vi a minha avó fazendo isso, mexendo o caldo até o ponto da rapadura, sem parar, naquele enorme tacho de cobre. Linda a cena! Ela era uma mulher do interior e dura na queda. Trabalhava do nascer do dia até o raiar da tarde. Pensei em como o tempo passa; naqueles tempos eu, uma criança; hoje nada mais resta dele, apagou-se, e eu uma quase sessentona...


   Vovó mandava a gente (netas e netos que a visitavam) debulhar espigas de milho (na mão, doía muito, mas, para nós era só festa, experiência de criança). Aquilo era seu trabalho diário: debulhar milho, socar café, fabricar o fubá (no moinho). Hum! Aquela broa de fubá mais grosso, aquele café moído na hora e perfumando o ambiente! Não tinha nada melhor. Vovó era danada na cozinha, seus quitutes eram de fazer inveja.


   Quando ela fazia aniversário, toda a família ia pra roça (alugavam um grande caminhão, com bancos na carroceria, que loucura, heim!) e íamos cantando as cantigas daquele tempo... "Quem parte leva saudades de alguém... Oh! Minas Gerais, oh Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais... Estrela D'alva, no céu desponta.... Como pode um peixe vivo, viver fora d'água..."  Até chegar lá era só animação e muito frio!!! Mas toquei nesse assunto por lembrar que ela mesma preparava os tais quitutes pro seu aniversário: eram mais de 30 tipos de doces diferentes, queijos, broas de fubá, a gente se fartava e depois os adultos iam pro "rasta pé" e a criançada também se animava (isso tudo com luz de lamparina de azeite e/ou querosene).


   Aquele Museu despertou-me tantas emoções. Engraçado que a gente não liga muito para os museus da nossa cidade e têm-se tantas histórias contadas lá (muitas delas sofridas!). Vou continuar nas visitas aos outros museus da cidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário