quinta-feira, 29 de março de 2012

CHOQUE, PENA ... TRISTEZA!

   Ontem à noite fui ao cinema com meu marido (consegui tirá-lo de casa, finalmente!) e assistimos ao filme SHAME, do diretor Steve McQueen (segundo filme dele, é artista plástico, britânico), o ator principal ganhou o Festival de Veneza de 2011 como melhor ator. 
   Inicialmente o filme me chocou! No começo da história, ele (Brandon), o ator principal, aparece deitado, como se estivesse morto. E foi assim que eu o vi em toda a película - como um morto-vivo. Alguém sem expressividade para a vida, apenas deixando a vida escapar-lhe entre os dedos.


   Na sequência, o filme me trouxe um sentimento de pena, "dó" daquela personagem. Infelizmente pena, "dó" é um sentimento que a gente não deve ter por ninguém, mas foi impossível não tê-lo.


   Brandon é um homem que vive sozinho em todos os sentidos, interiormente, exteriormente. É um pobre ser vivente, autômato a passar pela vida, seguindo com uma crueza seus caminhos, sem expressão de sentimento e afeto. É o que eu costumo chamar de existência malograda.


   Brandon é obcecado por sexo a ponto de isolar-se do mundo à sua volta e viver apenas centrado em seu próprio desejo, num nível de egocentrismo frio e doentio. Arma-se de todos os artifícios necessários a tais jogos: filmes pornôs, revistas, internet e ao vivo, com aquelas nuances onde o amor é coisificado, algo que se compra em qualquer prateleira ou esquina.


   Bom, acontece o que a gente sempre vê em situações desse tipo, a pessoa por vivenciar a relação sexual sem a contrapartida do afeto, vive um prazer que deixa um grande vácuo. Pode-se até trazer de volta Sartre, com o seu niilismo, tamanho é o vazio, a angústia existente.


   Foi assim que vivenciei este filme; tanto o Brandon, quanto sua irmã, e mesmo a sociedade circundante, como um vazio existencial a deixar vestígios. É muito triste este olhar do Diretor, que constata um mundo em decadência, de miséria humana (me lembrei até do Livro do Victor Hugo, Os Miseráveis), onde o individualismo reina absoluto, oprime e massacra com as possibilidades do outro (adeus solidariedade!). 


   Um questionamento sobre o caminhar da nossa sociedade ocidental no culto ao individualismo.Terminei de ver a fita e o sentimento era de tristeza por verificar que isso só está crescendo e tornando o homem, a mulher, simples objetos de desejo. É preciso muita reflexão sobre esse mundo sem perspectivas, sem objetivos de vida, sem projetos, sem respeito ao outro, sem solidariedade... 


   

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